Quatro momentos da História da Administração

Quatro momentos da história da Administração
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A administração é a gestão de uma organização composta de indivíduos, aplicando os recursos disponíveis com a finalidade de atingir determinados objetivos. Sempre foi assim, desde o início das primeiras sociedades humanas constituídas (ODA, 2018, p. 19).


O ato de administrar sempre fez parte das relações humanos, desde os primórdios quando a humanidade passou a se organizar em torno de famílias, tribos e clãs houve a necessidade de decidir a função de cada um perante o grupo. Coordenar o trabalho para obras estruturais, gerenciar os recursos naturais e dividir o trabalho é um conhecimento administrativo passado de geração a geração e embora as épocas mudem o objetivo central do ato de administrar permanece: atingir os resultados esperados com o melhor desempenho possível.

Para falar um pouco do ato de administrar ao longo da história iremos fazer um recorte temporal, partiremos da era industrial da Europa do século XIX. É neste contexto que nasce as abordagens científicas clássicas da administração para dar conta dos grandes complexos de produção fabril a base de carvão, ferro e eletricidade que resultou no surgimento de grandes corporações capitalistas.

É nesse período histórico que a Administração como disciplina ganha corpo e se torna objeto de estudo nas universidades com abordagens teóricas que refletem não apenas a necessidades de resolver problemas administrativos como também a organização de cidades e da vida em sociedade. 

Deforma genérica a abordagem teórica da Administração pode ser simplificada em três abordagem sendo: 1) abordagem técnica, quantitativa e impessoal do trabalho e de seus resultados, sem maiores considerações com o ser humano, suas necessidades e seus anseios; 2) abordagem, que privilegia o trabalhador e suas necessidades; 3) abordagem que se equilibra em uma visão sistêmica do todo, considerando todas as variáveis com as suas devidas importâncias.

Muito dos estudos acadêmicos da área administrativa partiu da prática para a teoria, isto é, dos problemas cotidianos para a teorização. Essa gama de conhecimento não cabe em um único texto, já que são conhecimentos desenvolvidos por décadas a fio. Assim, neste singelo texto destacaremos quatro momentos determinante na história da Administração:

1) a abordagem científica e clássica;

2) os 14 princípios de Fayol;

3) a abordagem humanística e comportamental;

4) a abordagem sistêmica e contingencial.



Esperamos que o leitor compreenda a grandeza da ciência Administrativa e que o texto desperte a curiosidade pelo tema.



1) A abordagem científica e clássica

O principal expoente da abordagem científica clássica é o engenheiro estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1917) cujo trabalhos estão centrados no gerenciamento das tarefas e sua produtividade. Seu pioneirismo está registrado em livros como Um sistema de pagamento por peça (1895), Administração de oficinas (1903) e Princípios da administração científica (1911).

Os estudos de Taylor tinham como norte a redução e a eliminação de desperdícios durante o processo produtivo e, assim, elevar a produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas científicos. Entre esses métodos estavam a racionalização do trabalho através da observação e controle do tempo e do movimento das atividades laborais e a análise metódica de cada tarefa do processo produtivo, decompondo-as em etapas menores para acelerar a produção. Sua conclusão era de que o operário médio produzia menos do que potencialmente era capaz e isso é um gargalo produtivo a ser solucionado pelo gestor.

As pesquisas visaram reduzir o desperdício de esforço e movimentos desnecessários realizado pelos operários, adaptando e moldando os corpos as suas tarefas específicas, estabelecendo métodos e padrões claros para a execução do trabalho para simplificar o treinamento e especializar o operário para assim aumentar a eficácia e a produtividade.

Além disso, os estudos de Taylor deram origem aos princípios da administração cientifica que são: princípio do planejamento, princípio do preparo, princípio do controle e princípio da execução. Tais princípios buscavam garantir a distribuição equilibrada do trabalho evitando períodos de insuficiência ou sobrecarga entre os setores produtivos e mecanismo administrativos que assegurasse uma remuneração justa ao trabalhador através de incentivos à produção. 

Os estudos de Taylor levaram a transformações significativas na forma de gestão, entre elas destaca a divisão da autoridade e da responsabilidade dentro da empresa, a distinção entre as técnicas de trabalho e a gestão de pessoas, a racionalização do trabalho operário vinculando-a estrutura da empresa, a substituição do improviso pelo empirismo prático científico e a cooperação íntima da administração com os trabalhadores.



2) Os 14 princípios de Fayol

Henry Fayol (1841-1925) era engenheiro de minas que passava bastante tempo teorizando sobre a gestão empresarial. Contemporâneo a Taylor seus estudos tinham como ênfase a estrutura organizacional da empresa com a atenção especial na qualificação e atribuições dos gestores dentro da cadeia produtiva. Na concepção de Fayol os gestores tinham a função de supervisionar o trabalho dos subordinados, este seria o método mais eficaz de gerenciar uma empresa e, consequentemente, ampliar a produtividade.

De maneira simplificado o modelo de gestão proposto por Fayol pode ser dividido em duas partes: 1) seis funções da estrutura organizacional empresarial: produção, comercial, financeira, contabilidade, administrativa e segurança; 2) atividades gerenciais: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar (POCCC). A partir destes dois modelos o autor desenvolvei 14 princípios de gestão que são: 

1) a divisão do trabalho, que promove maior produtividade e especialização; 

2) a autoridade associada à responsabilidade, garantindo obediência com recompensas ou penalidades; 

3) a disciplina, que reflete obediência e respeito às normas estabelecidas; 

4) a unidade de comando, assegurando que cada agente receba ordens de um único superior; 

5) unidade de direção, que garante um único chefe e plano para coordenação e convergência dos esforços;

6) a subordinação dos interesses individuais ao geral, priorizando o bem da empresa; 

7) remuneração equitativa e incentivadora, que pode incluir participação nos lucros;

8) centralização ajustada às necessidades da empresa; 

9) hierarquia para organizar comunicações e objetivos; 

10) ordem e organização estrutural; 

11) equidade aliando justiça e benevolência; 

12) estabilidade do pessoal para aprimorar funções; 

13) incentivo à iniciativa para realização de projetos; 

14) a união do pessoal como fonte vital para evitar divisões e promover harmonia.



3) A abordagem humanística e comportamental

A perspectiva humanística e comportamental tem como ênfase os aspectos sociológicos e psicológicos que envolvem o trabalho. Tal modelo surge como resposta a abordagem técnico científica ao privilegiar o lado humano do trabalhador tão importante para a produtividade. A pioneira nessa abordagem foi Mary Parker Follet (1868-1933) com o seu livro Administração dinâmica (1940) onde a autora discute acerca do trabalho individual e as responsabilidades de cada função. 

O destaque do trabalho de Follet é o humanismo algo completamente oposto ao cientificismo de Taylor, para a autora o componente central de uma organização são as pessoas cabendo aos gestores gerenciarem conflitos, desenvolver técnicas de lideranças e elaborar modelos de gestão participativa e de responsabilidade individual.

Além de Follet, Elton Mayo (1880-1949) realizou alguns experimentos de gestão humanística e comportamental na fábrica Western Electric Company na cidade de Hawthorne em Chicago nos Estados Unidos. O ensaio recebeu o nome de Experiência de Hawthorne onde foi colocado em prática conceitos essenciais da escola humanística de administração, que procurava verificar a relação entre a motivação pessoal e o resultado do trabalho entre os operários. 

O experimento concluiu que os fatores humanos influenciam decisivamente no desempenho das tarefas, o que ampliou a compreensão das variáveis que interferem na qualidade administrativa de uma empresa.

Em 1924, com o apoio do Conselho Nacional de Pesquisa da Academia Nacional de Ciências, Mayo desenvolveu uma série de estudos relacionando ao ambiente físico e a produtividade do trabalho. A ação foi interrompida pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e foi retomada em 1932 onde fora avaliado a intensidade da iluminação sobre a produtividade. Nascia aqui novos campos da ciência administrativa, os princípios básicos da Escola das Relações Humanas que tem como foco pensar a relação entre os fatores fisiológicos e o trabalho, além de explorar temas como os relacionamentos interpessoais e os comportamentos socioemocionais entre os trabalhadores.



4) A abordagem sistêmica e contingencial.

Esta abordagem surge da necessidade de unir teorias administrativas distintas, a escola científica ou clássica, a escola burocrática e a escola das relações humanas. Desenvolvida por Amitai Etizioni, Blau e Scott esta nova abordagem recebeu o nome de Escola Estruturalista, seu objetivo era utilizar conceitos de todas as escolas administrativas anteriores para criar um elemento agregador da racionalidade do trabalho (técnico científico) e as relações interpessoais (humanístico comportamental).

Posteriormente, essa nova forma de pensar a Administração foi batizada de Escola Neoclássica. Em 1937 Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972) lança a Teoria Geral de Sistemas (TGS), mas é apenas na década de1960 que a TGS ganha espaço entre as corporações. Seus pressupostos são: a integração científica, natural e social para o desenvolvimento da Administração tenho a ciência um papel essencial na educação científica.

A TGS tem como finalidade administrativa detalhar o sistema organizacional como um todo, ambiente interpessoal, estrutura física, recurso disponíveis e quaisquer elementos que faça a empresa funcionar. O enfoque sistêmico abrange três componentes interligados: entradas, processos e saídas, acompanhados por mecanismos de realimentação (feedbacks) que promovem melhorias contínuas no funcionamento. Esses elementos estão inseridos em um ambiente externo, que influencia e provoca transformações no sistema como um todo.

Os estudiosos da administração consideram a Teoria Geral de Sistemas um marco significativo, pois promove a Qualidade Total, a integração de diversas áreas do conhecimento, permitindo tanto a análise do todo quanto das partes, incluindo aspectos específicos das organizações. A abordagem sistêmica e contingencial tem todos os seus aspectos voltados para o sucesso empresarial e sua teoria está alinhada a nova economia, própria da Sociedade do Conhecimento.


Considerações finais

O texto abordou quatro momentos da história da Administração pós-Revolução Industrial no século XIX, seus conceitos teóricos sua aplicação prática e as mudanças na forma de pensar a Administração. Os momentos aqui debatidos foram 1) a abordagem científica e clássica; 2) os 14 princípios de Fayol; 3) a abordagem humanística e comportamental; 4) a abordagem sistêmica e contingencial. Cada um deles tiveram a sua importância ao longo da História e seus princípios são até hoje revisitados, reinventados e aplicáveis. A Administração como ciência é nova tem menos de 200 anos de idade e sua função ainda é a de transformar a vida em sociedade mais produtiva e confortável.


Bibliografia

ODA, Érico; MARQUES, Cícero Fernandes. Introdução à administração. Curitiba-PR: Ed. IESDE Brasil, 2018.

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